Costumo dizer que para entender o presente precisamos olhar para o passado. Com esse exercício de reflexão observamos que o trabalho costuma ser visto como uma oscilação entre algo degradante ou edificante, mas sempre com um carácter de sofrimento.
A origem da palavra “trabalho” vem do latim tripalium, que remete a um instrumento de tortura. Na Grécia antiga o trabalho era visto como algo degradante e inferior, cujas atividades braçais eram destinadas aos escravos.
A partir do século VI o trabalho passa a ser visto como uma forma de penitência e aproximação a Deus. Somente no Renascimento o trabalho assume um caráter de realização pessoal.
Atualmente podemos notar que o trabalho se manifesta como um “no pain no gain”, em alusão ao mundo do fisiculturismo. Naturalizamos uma apologia ao sacrifício que se expressa em rotinas de trabalho excessivas, falta de tempo para tudo e entregas de resultados a qualquer custo.
O ritmo de vida é tão intenso que não conseguimos mais ficar parados. Momentos de ócio geram um sentimento de que deveríamos estar fazendo algo produtivo. Você precisa estar em movimento!
O filósofo sul coreano Byung-Chul Han chama atenção para o que ele nomeia como “Sociedade do Cansaço”, em que as pessoas vivem uma intensa competição consigo mesmo em busca de sempre superar seus limites.
Somos todos atravessados por um excesso de positividade, de movimento, de desempenho. Há pouco tempo para pensar no preço que pagamos pela vida que levamos. O resultado disso é uma era marcada pelas patologias da mente como burnout, estresse, depressão e ansiedade.
Diante disso, precisamos falar sobre essa cultura que sacrifica as pessoas pelos números, que naturaliza a perda da saúde física e mental no ambiente de trabalho. É importante que as pessoas tenham acesso a conhecimento científico e confiável sobre o tema, que sejam capazes de identificar sinais de adoecimento mental e sua rede de apoio.
As organizações precisam criar momentos de diálogo sobre a promoção da saúde mental no trabalho e capacitar as lideranças a atuarem de forma mais humanizada.
Na sua opinião, como podemos equilibrar os sacrifícios no trabalho? Qual é o papel das empresas e das lideranças nesse processo?